Eda Lúcia Marçal – Psicóloga

Para cada suicídio estima-se mais de cem pessoas impactadas;. Apesar desse número ser elevado, o quanto ouvimos falar sobre suporte oferecido às vítimas sobreviventes do suicídio?
“No luto é escancarado um sofrimento que fica por muito tempo em carne viva e por esse motivo a pessoa que se matou se mantém pela dor, lembrança do ato suicida e pela constante busca de explicações. No luto, normalmente não usamos maquiagem nem adereços que nos enfeitam. É o estado mais “puro” em que evidenciamos nossa fragilidade.” (Karina Okajima Fukumitsu, 2018)ii
A todo instante estamos optando pela vida. É algo tão natural que não nos damos conta. Mas o que dizer daquelas pessoas que optam por tirar a própria vida?
Bem, é um tema bastante complexo e a pessoa que cometeu suicídio jamais irá responder às questões geradas pelo ato. Essas questões ficarão para sempre sem respostas, algo muito cruel para as vítimas secundárias dos suicídios que, se veem condenadas a conviver para sempre com um sentimento de culpa.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, anualmente ocorrem mais de 700.000 mortes por suicídio no mundo. Em 2022, foram registrados 16.262 suicídios no Brasil, uma média de 44 mortes por dia. Provavelmente esse número está aquém da realidade, pois algumas causas de morte não são identificadas podendo ter sido por acidente, homicídio ou suicídio.
No entanto, as campanhas de prevenção ao suicídio frequentemente recebem mais atenção e financiamento, enquanto as campanhas de apoio às vítimas secundárias podem ser menos visíveis e ter menos recursos. Essas vítimas muitas vezes acreditam que poderiam ter feito algo para evitar o ocorrido, questionam suas próprias ações e decisões em relação à pessoa que se suicidou e frequentemente experienciam sentimentos de luto intenso, choque, culpa, raiva e tristeza profunda.
As pessoas que perdem um ente querido por suicídio têm um risco significativamente maior de desenvolver transtornos mentais, como depressão, ansiedade e, em casos extremos, pensamentos suicidas. Elas podem se sentir sozinhas e sem apoio, o que torna difícil processar o luto de maneira saudável.
O apoio a essas vítimas é essencial para ajudá-las a lidar com o luto e prevenir problemas de saúde mental. Existem serviços de suporte, como grupos de apoio ao luto por suicídio, psicoterapia e linhas de atendimento especializadas. Crianças e adolescentes que perdem pais, irmãos ou amigos por suicídio estão em um grupo particularmente vulnerável e podem ter o desenvolvimento emocional prejudicado, bem como o desempenho escolar e social afetados.
Referências:
i https://jornal.usp.br/?p=183213
iii Projeto de Lei 4840/23 propõe a alteração da Lei nº 13.819, de 26 de abril de 2019 (Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio) para prever a assistência psicossocial e o atendimento gratuito e sigiloso de familiares e pessoas próximas de vítimas de suicídio e de pessoas em sofrimento psíquico agudo ou crônico. Fonte: Câmara dos Deputados.